quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Agora é adeus?

No começo era a Pedrita, até que um dia ela se foi. Por ser fêmea, acharam melhor que ela fosse embora. Pedrita teve nove filhotes, um deles debaixo da minha cama, talvez por medo da primeira gravidez. Pedrita não poderia ir embora se não convencesse a família de ficarmos com um filhote. Tinha que ser macho, diziam. A escolha não foi difícil, era aquele que nasceu debaixo da cama. O nome, Bambam.
Aos 13 anos, não sabemos onde Bambam está. Sua história é incomum, pelo menos nunca vi. Mas, antes de contar como isso aconteceu, um breve histórico da minha vida com ele. Bambam, um animal único, diria até, um quase ser humano. Quando estava triste sentava ao seu lado, como fazemos com amigos, e até conversava. Maluca, diriam vocês, mas Bambam respondia. Pelo menos eu entendia. Tenho certeza que ele me conhecia muito bem, bem até demais. Dizem que filhos têm a personalidade dos pais. No caso de Bambam, só a minha. E uma personalidade muito forte.
Bambam herdou a manha – que muito está presente em mim, a felicidade por coisas pequenas e o olhar de quem sempre consegue o que quer. Sinto, embora possa parecer piegas, que era como se fosse um filho.
No ano passado Bambam sumiu. Sempre foi criado solto no mundo. Nunca gostei de amarrá-lo em uma corrente, até porque acho que era a reencarnarão do Magaiver, conseguia sair de todas elas, inclusive as mais complicadas. Perguntava por Bambam a todos que o conheciam. Ele era famoso no meu bairro, uma figura. Ninguém sabia, ninguém via mais. Ele não fugia sempre, mas sempre voltava quando estava na rua. Fiquei muito triste, afinal é muito ruim não saber o que aconteceu, como foi, onde estava. Na verdade fiquei desesperada algumas vezes. Não creio ser normal todo amor que sinto por ele.
Passados seis meses, um amigo me disse que tinha visto Bambam no bairro Santo Agostinho, em Volta Redonda. Uma observação: moro no bairro Vila Independência, em Barra Mansa. No começo não acreditei, mas fui com Momô (esse é o Cris) no local, afinal ainda restava a esperança. Rodamos, rodamos e nada. Fui para casa meio decepcionada. Desta vez com o sentimento de que ele realmente tinha morrido. Minha surpresa foi um telefonema alguns dias: “Carol, achei o Bambam”, diz meu amigo. Fui voando para casa e lá estava ele magro, sujo, irreconhecível. O que me lembro é de ter falado com ele de longe e escutar o seu choro. E a revolta foi ter a certeza que existem pessoas cruéis nesse mundo.
Depois disso, Bambam foi muito bem tratado. Veterinário, banho, remédios, veterinário, banho, remédios... um dinheirão. Ficou lindo de novo. Gordo, saudável, lindo... A novidade é que agora estava com artrose.
Há um mês, não aparentando a idade que tem, Bambam vai atrás de uma cachorra no cio. Impossível de segurar. Na semana em que fugiu me acordava sempre às 6 horas choramingando. No final das contas, conseguia sair pelo portão quando alguém da minha casa saia para trabalhar. Bati nele no dia em que o vi pela última vez. Esse é o remorso que tenho carregado. Pode parecer besteira, mas não tinha o costume de fazer isso. Quando fazia ele me olhava com aquele olhar e eu logo me desculpava. Desta vez não foi assim. Com sono, só queria que ele ficasse calado. E ficou. Até hoje não ouço seu latido, quer dizer, quando penso que é saio na rua e volto enganada.
Agora não sei se tenho que dar adeus ou esperar outro milagre. Sei que sinto falta de chegar em casa e não ver o Bambam sacudindo a bundinha por um carinho. Sei que há um vazio no meu coração. Será que é adeus?

Tocando em frente

Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe
Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Eu nada sei

Conhecer as manhas e as manhãs,
o sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar,
é preciso paz pra poder sorrir
É preciso chuva para florir

Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou

Conhecer as manhas e as manhãs,
o sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar,
é preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Todo mundo ama um dia, todo mundo chora
Um dia a gente chega, no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
E cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz

Conhecer as manhas e as manhãs,
o sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar,
é preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais
Cada um de nós compõe a sua história
E cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz...


PS: A primeira postagem deste blog deveria ser mesmo essa música de Almir Sater e Renato Teixeira. Ela significa tudo o que até hoje passei, mas como diz o final "Cada ser em si carrega o dom de ser capaz, de ser feliz...", essa é minha filosofia. Tento a cada dia cumprir esse mandamento.